Dança dos Sete Véus: algumas considerações...

Há tempos tenho ouvido e lido várias histórias a respeito desta dança. Dizem que teve origem com a dança de Salomé (personagem bíblica que consegue a cabeça de João Batista em uma bandeja de prata mediante seu pedido ao rei Herodes), outros dizem que sua relação é com os chakras (que cada véu e sua cor representam um chakra e que, ao tirá-lo, você estaria conseguindo se purificar).
Acontece que em nenhuma bíblia é mencionado como foi a dança feita por Salomé e muito menos que utilizou sete véus (mesmo na versão original em grego do novo Testamento).
Pensando nas histórias, vemos uma questão ambígua:
Se Salomé dança para seduzir Herodes, onde está o grau de purificação feita então pela dança dos sete véus, se assim pudesse ser associada aos chakras? E há ainda, o que os “Chakras”, conceito proveniente da cultura indiana tem a ver com a cultura oriental árabe?
Tratando-se da cultura oriental árabe, sua região e sua antiguidade, podemos pensar na Mitologia babilônica para nos aproximarmos mais de uma possibilidade de interpretação desta dança tão enigmática.
Acredito que podemos associar a dança dos sete véus ao mito de Ishtar (deusa do panteão babilônico, anteriormente com o nome de Inana no panteão sumério). A Babilônia (na antiga Mesopotâmia) corresponde hoje à região do Iraque.  Em seguida a descrição do mito, segundo SPALDING, 1995, p. 96 e farei algumas correlações:
Ishtar resolve descer aos infernos em busca de irmão amante Tamuz. “Logo ao chegar a porta, parlamenta com o guardião. Ereshkigal [senhora dos infernos], feliz com essa nova presa, ainda que fosse sua irmã,  ordena que a deixem entrar. A medida que a deusa Ishtar transpõe cada uma das  sete (7) portas dos infernos, o porteiro lhe arrebata um dos seus ornamentos: a coroa, os brincos das orelhas, os colares, os porta-seios de metal precioso, a cinta composta de amuletos feitos com “pedras de parto”, os braceletes dos braços e dos artelhos e, finalmente, as “suas vestes de pudor”.  E Ishtar  aparece nua diante das rainha dos infernos; tomada de furor, “sem mesmo refletir”, Ishtar lança-se sobre ela. Então Ereshkigal ordena que seu ministro Namtar lance contra ela, como matilhas desaçaimadas, a multidão dos males. Durante esse tempo, sobre toda a terra, a vegetação definhava e não reverdecia; os animais  não se reproduziam, o marido não buscava sua esposa para atos amoroso.; a esposa não importava com o marido.  Os deuses, aterrados, querem-na libertá-la e Ea cria uma personagem que será sacrificada; essa figura vai procurar Ereshkigal e lhe de para que lhe dê beber dum determinado odre, cuja água, era reservada aos deuses.  “A deusa Ereshkigal, ao ouvir tais palavras, bate nas coxas e morde o dedo”.  Maldiz o mensageiro que não terá por alimento senão “os alimentos das valetas e a água dos condutos de esgoto da cidade”. Como conclusão, forçada pela dúvida pelo pedido do mensageiro, cujo real significado nos foge, Ereshkigal manda que derramem sobre Ishtar as águas vivificantes e ela é reconduzida através das sete portas, em cada, lhe são devolvidos os adornos e suas vestes”.
Ishtar, deusa do amor e da fertilidade é uma das principais do panteão babilônico. Desce aos infernos e em cada portal que passa retira um adorno ou vestimenta, chegando lá despida. Recorremos a alguns conceitos de Jung fazendo algumas analogias: o inferno seria a “sombra”; e ao se despir atravessando os portais estaria fazendo um desnudamento da “persona”, encontrando então seu “self” (encontro consigo mesmo).
A idéia de purificação poderia também estar associada à dissolução da couraça psicológica e física, segundo Reich. Essa couraça possui uma estrutura com sete segmentos de armadura, compostos por músculos e órgãos relacionados. A retirada de cada véu representaria a dissolução das couraças, representadas pelos seguintes órgãos: olhos, boca, pescoço, tórax, diafragma, abdômen e pélvis e seu retorno seria o crescimento psicológico. Ao observar os ornamentos da deusa podemos visualizar que muitos estão sob estes órgãos, além do que, eles ainda possuem uma relação muito próxima aos usados hoje na dança oriental árabe; os brincos das orelhas, seus colares, os porta-seios de metal precioso, a cinta composta de amuletos feitos com “pedras de parto”, os braceletes, usados também nos artelhos, as “vestes de pudor”.  Fato curioso é que a deusa usa uma cinta composta de amuletos feitos com pedras do parto, representando a fertilidade do ventre (retratando o abdômen e a pélvis).  

Bibliografia:
FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. Tradução de Camila Pedral Sampaio e Sybil Safdié. São Paulo: Harbra, 2002.
SPALDING, Tasilo Orpheu. Dicionário de Mitologia. 10 ed. São Paulo: Cultrix, 1995.
The New Testament. Disponível em: 

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